domingo, 10 de maio de 2009

- Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e ao resto.

- Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou na pista de um mistério...

- Que mistério?

- De dois, emendou a Sandice; o da vida e o da morte; peço-lhe só uns dez minutos.

A razão pôs-se a rir.

- Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a mesma coisa... sempre a mesma coisa...

E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se depressa, deitou a língua de fora, em ar de surrada, e foi andando...

Memórias Póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis

Um comentário:

Anônimo disse...

Elrich deixou de escrever?