segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Agendar a vida

Abro uma página da minha agenda para demarcar mais uma vez o território de minha liberdade e o dos meus deveres - que é onde ela começa a perder pé.
A fantasia não pede licença para se desenrolar: logo vejo uma infinidade de mesas e escrivaninhas, cada uma com sua agenda, nela a floresta dos compromissos, mal sobrando alguma trilha estreita para andar e respirar. ( Nas folhas desta minha atual quero abrir entrelinhas para contemplar a árvore em flor diante da minha janela, ou pegar nos braços uma das crianças que povoam esta casa.)
Vejo também agendas quase vazias onde se procura melancolicamente algo para quebrar o sem sentido da vida: nenhuma visita, uma data de aniversário, nenhum afeto nomeado, nem ao menos um pagamento nesses dias que parecem um deserto sem contornos.
Nem uma miragem ao longe?
Pessoalmente não vivo sem uma agenda, aquelas de bloco, ao lado do computador. Às vezes olhar a folhinha me dá alegria: um encontro bom, ou um dia inteiro só pra mim. Em outras folhas, um engarrafamento de garatujas (minha letra, horror das professoras desde s primeiros anos de escola) com mais compromissos do que o meu fundamental desejo de liberdade quereria.
Agenda pode ser tormento e prisão. Mas pode ser liberdade, se a gente inventar brechas: em plena tarde da semana, caminhar na calçada; sentar ao sol na varanda do apartamento; deitar na grama do parque ou jardim, por menor que ele seja, e como criança olhar as nuvens, interpretando suas formas: camelo, coelho, árvore ou anjo.
Ou: quinze minutos para se recostar para trás na cadeira (pode ser do escritório mesmo) e espiar o céu fora da janela, ir até a sala, esticar-se no sofá com as pernas sobre o braço do próprio, e ouvir música, ver televisão, ler, ler, ler... ou simplesmente não fazer nada.
O ócio é uma possibilidade infinita a ser explorada.
Não falo da inércia, do desânimo, do vazio melancólico. Jamais falarei de robe velho e pantufas (vi numa vitrine algumas com cara de cachorro e até orelhas!) pela casa até o meio da tarde.
Falo de viver.
"Parar, olhar, escutar", dizia um aviso nos trilhos do trem quando havia trem entre minha cidade e Porto Alegre. A gente passava de carro sobre o trilho, e eu imaginava o horror de alguém infringir isso e ser explodido pelo monstro de ferro e fumaça.
A vida há de rolar por cima da gente, reduzindo a poeirinha inútil quem se esquecer de às vezes parar pra pensar... mas sem se desmontar; olhar em torno ou para dentro: paisagens belas, ou áridas (sempre dá pra plantar um capim) ou quem sabe coloridas (a alma pode brincar de esconde-esconde entre as folhas).
E escutar: a música do universo, o canto do sabiá (que tem começado às 3 da madrugada fria, atarantado neste clima estranho); a risada da criança no andar de cima; enfim, o chamado da vida que nos convoca de mil formas: anda, sai do marasmo, viveeeeeeeeeeee!!
Que nossas agendas (também as interiores) nos permitam muitas vezes a plenitude do nada sorvido como um gole de champanha, celebrando tudo.
Sem culpa.


Lya Luft, Pensar é Transgredir.

Esse texto me fez pensar bastante no quanto de tempo a gente perde nessa inércia que a Lya diz, sem aproveitar os pequenos prazeres que a vida traz... Esgotados com o tédio de um dia qualquer, sem ver no quanto de coisa legal a gente podia estar fazendo. Fiquei pensando muito nisso no Domingo, não só por ler essa crônica, mas também por ter visto O Curioso Caso de Benjamin Button, filme belíssimo de David Fincher, com o Brad Pitt e a Cate Blanchett... Lindo, lindo, simbólico, marcante, com efeitos incríveis de animação para fazer com que o Brad Pitt virasse um velhinho de 7 anos... hahaha, genial, vale muito a pena ver! :)

Enfim, esta foi a minha aparição relâmpago, espero que não tenha decepcionado nenhum leitor deste blog e enfim, até a próxima ^^

Introdução

Alô alô garotada!! QQQ
Meu nome é Fabiana, e, apesar de ter sido convidada para contribuir nesse blog há muito tempo, eu nunca tive tempo, saco e bons assuntos para fazê-lo. Meu gosto por leitura vem se perdido bastante durante o tempo, mas ando dedicando minhas férias a ler e a procurar boas leituras. Em resumo, atualmente leio 5 livros, dos quais falarei mais detalhadamente conforme for. Ontem fui num shopping novo daqui de Porto Alegre e comprei na FNAC três livros. 1 sobre amor, escrito por um sociólogo famoso, outro com crônicas aleatórias, tendo como crônica central "A Janela Indiscreta", crônica que deu origem ao filme do Alfred Hitchcock e 1 da Lya Luft, de nome "Pensar é transgredir", com uma seleção interessante de crônicas sobre a vida cotidiana. O primeiro, achei um tanto sério demais, com muitos devaneios sem chegar a uma conclusão lógica (tenho aprendido isso cada vez mais que teimo em ler livros de sociologia) o segundo, li algumas páginas, mas nada que me saltasse muito aos olhos. O terceiro, entretanto, me chamou muita atenção e me deu boas duas horas de leitura boa e desprendida. Não sei se vai ser do agrado geral, mas anyway, enjoy the show. O nome da crônica é Agendar a vida. Vou postar separado, só pra não bagunçar o blog do Erich. Ou não.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O Escafândro e a Borboleta é um drama francês lançado no ano de 2007 pela Europa Filmes
Conta a história de Jean-Dominique Bauby, redator-chefe da revista Elle, que após sofrer um derrame cerebral fica em coma por 3 semanas, amanhece com uma rara paralisia em estado quase vegeta
tivo. O filme inicia com o médico tentando se comunicar com ele, e de repente percebe que não o estão ouvindo e que o único movimento do seu corpo que restou, foi o do olho esquerdo.

E então decide "escrever" um livro e contar sua experiência como sendo prisioneiro do seu próprio corpo. Jean-Do
sabe que não foi só o olho que lhe restou, mas mais do que isso, a sua imaginação e a sua memória, e a obra conta com vários de seus devaneios, e 'flashbacks' da sua vida fora do escafândro. De certa forma, (re)aprende a viver com seu novo corpo.



É um filme super triste, mas que vale a pena assistir. Ganhador do Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro em 2007, e indicado 4 vezes ao Oscar.

Abaixo segue um pedaço do livro :)


Atrás da surrada cortina da minha janela, um tênue fulgor anuncia o começo do dia. Me doem os pés e minha cabeça pesa uma tonelada. Uma espécie de escafândro aprisiona meu corpo. Minha tarefa agora consiste em tomar notas desta viagem imóvel de um náufrago nas margens da solidão. Originalmente este hospital foi feito para hospedar crianças com tuberculose. Na galeria principal do hospital havia um busto de mármore branco da Imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão III, e madrinha do estabelecimento ao qual visitava com regularidade. Havia uma enorme granja, uma escola e um sítio onde segundo a lenda, o grande Diaghilev ensaiou seu Balé Russo. Dizem que aqui Nijinsky fez o seu famoso salto de três metros pelo ar. Nada aqui salta pelo ar agora. Hoje em dia não há mais que anciões, fracos e como eu, rígidos e emudecidos. Um batalhão de inválidos.

Para quem gostou, seguem 2 links para download do filme e do livro :)


É isso :) uma boa semana p todos o/

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Antes de qualquer coisa, feliz ano novo pra todo mundo :D
que 2009 seja mais produtivo que 2008 :)



long time no seeing, hã? :s
agora que entrei em férias o ócio e o tédio aumentaram e a criatividade diminuiu :(


mas queria postar um pedaço de um capítulo de The The Dark Tower III; The Waste Lands que eu gostei bastante :)

"Agora, ao aproximar-se da porta do quarto dos casacos, sentia a mesma explosão atordoante de esperança, a certeza de que a porta não ia se abrir para um quarto escuro contendo apenas os persistentes cheiros do inverno - flanela, borracha e lã molhada -, mas para outro mundo onde ele poderia voltar a ser inteiro. Uma luz quente, ofuscante, iria bater no piso da sala de aula num triângulo crescente, e ele veria pássaros circulando num céu azul desbotado, da cor de
(seus olhos)
Velhas calças jeans. Um vento do deserto sopraria seus cabelos para trás e secaria o nervoso suor de sua testa.
Ele atravessaria aquela porta e estaria curado.
Jake girou a maçaneta e abriu a porta. Dentro havia apenas escuridão e uma fila de reluzentes cabides de metal. Uma luva esquecida muito tempo atrás jazia dentro das cadernetas empilhadas em ordem no canto.
Ele sentiu o coração afundar, e de repente teve vontade de simplesmente rastejar para dentro daquele quarto escuro com seus cheiros ruins de inverno e pó de giz. Poderia tirar a luva e sentar-se no canto debaixo dos cabides. Poderia sentar-se no tapete de borracha onde se deviam pôr as botas no inverno. Poderia sentar-se ali, pôr o polegar na boca, apenas os joelhos contra o peito, fechar os olhos, e... e...
E simplesmente desistir.
A idéia - o alívio dessa idéia - tinha uma incrível atração. Seria um fim ao terror, confusão e deslocamento. Este último era de alguma forma o pior; a persistente sensação de que toda a sua vida virara um labirinto de espelhos num parque de diversão."




essa é uma das minhas partes favoritas do livro ^^

A Torre Negra é inspirada no universo de Tolkien, no poema épico do século XIX "Childe Roland à Torre Negra Chegou", nas lendas arturianas e ao faroeste. Mistura terror e fantasia contando a trajetória do último pistoleiro antes de o mundo seguir em frente em busca da tão sonhada Torre Negra, ponto de ligação entre todos feixes de luz, que mantém o mundo e o tempo estáveis.


vou ver se mais pro meio do mês faço um post mais criativo /hmm
até lá, boas férias p/ todos :)

c ya o/