- Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e ao resto.
- Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou na pista de um mistério...
- Que mistério?
- De dois, emendou a Sandice; o da vida e o da morte; peço-lhe só uns dez minutos.
A razão pôs-se a rir.
- Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a mesma coisa... sempre a mesma coisa...
E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se depressa, deitou a língua de fora, em ar de surrada, e foi andando...
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Machado de Assis
domingo, 10 de maio de 2009
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